"Às
vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada
dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar,
sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos
indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e
esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer
não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima
da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a
fazer.
E mesmo
que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se
oiça o coração bater desordeiramente fora do peito é preciso domá-lo,
acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar,
esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a
saudade, a vontade.
…
…
Às vezes
mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar,
anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem
…
Às vezes é
preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo a baixo para voltar a
construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro
momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda-fora
…
Esquecer
tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e
cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave
fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça
o segredo.
Às vezes é preciso saber renunciar…
E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais
queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar.”
…
Sem comentários:
Enviar um comentário